terça-feira, 29 de outubro de 2013

Das Histórias Que Não Foram Vividas

   Estava anoitecendo. Os últimos raios de sol despediam-se no horizonte e, aos poucos, davam lugar à escuridão parcial que era apenas interrompida por alguns pontos brilhantes no céu. Com passos curtos e arrastados, um senhor deslocava-se para perto da janela de seu apartamento. Respirou fundo, olhou para frente e não conseguiu seguras as lágrimas.

   Não havia uma noite em que não parava para pensar em como sua vida poderia ter sido diferente. Era filho único, teve pouco contato com os primos e tios. Não casou-se nenhuma vez. Mas apaixonou-se algumas. Sempre acreditando que seria diferente, que encontraria um amor para viver pelo resto de sua vida, como nos filmes. Como nos livros. Como nos comerciais de Natal. Contudo, não foi assim para ele.

   Cada desilusão era uma pontada no peito daquele homem que sofreu por sentir demais. Agora, estava velho e sentia-se incapaz de ser feliz. Lamentava as chances que perdeu. Na verdade, nem ele sabia se tivera tido uma oportunidade concreta de mudar o seu destino para melhor. Era tímido e introvertido; confortava-se em apenas existir. Nunca ousou, pois tinha medo de perder aquilo que na verdade nunca fora seu.

   Os finos cabelos brancos, as dobras na pele, a dificuldade em andar. Tudo demonstrava que ele se resumia a um pobre resto de esperança. Deu um gole em seu uísque e pensou como queria voltar no tempo. Não teve esposa. Nem filhos. Muito menos alegria. Os poucos amigos feitos já haviam desaparecido há tempos. Hoje, ele morre lentamente e possui apenas uma amarga lembrança: das histórias que não foram vividas.

@Gui_Lorenz

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Zero

Ninguém tem tudo o que deseja. Nós, meros seres humanos frente à imensidão do universo, possuímos essa peculiar e desastrosa característica: desejar mais do que podemos alcançar. E essa é a causa de tanto sofrimento, tanta revolta, desilusão e decepção. Somos o que podemos ser, não o que queremos ser.

Nossa preocupação em parecer algo maior faz com que a essência do ser humano (a ação, não a espécie) fique abandonada em algum canto do coração. Todos temos algo a esconder, um ponto fraco que nos faz desmoronar. E pensando em nossos vícios e virtudes, admiti a hipótese do saldo.

Vivemos em um estado de estabilidade, no qual coisas boas e coisas ruins acontecem todos os dias. Por vez ou outra, acontecem mais coisas boas do que ruins ou vice-versa. Mas isso é passageiro. Existe um ponto de equilíbrio entre tudo isso, enfim, como a lei da ação-reação, aquilo que um dia acontece de pior, no outro acontece de melhor. Uma força além da minha compreensão que não te deixa ser puxado para um extremo ou outro. Sendo assim, o zero é uma resposta para nós. Pelo menos uma hipótese. Bem forte, ao meu ver. Tudo de positivo terá um contrapeso negativo.

As emoções, razões, resultados se balanceiam de modo que, ao final, encontrem-se no saldo zero. Devemos aceitar essa condição, esse meio termo que nos deixa tão inseguros? Não sei. Mas há boas razões para acreditar que tal condição existe. Entre o otimismo e o pessimismo, fico com o realismo de que as coisas vêm e vão numa dinâmica que altera o rumo das nossas vidas diariamente. A vida tem de prosseguir e talvez seja melhor mantermos a crença de que, ao final de tudo, teremos bons motivos para sorrir. Alguns a mais do que para lamentar.

@Gui_Lorenz