Capítulo I- Abalo na Rua Beckford
-A senhora está bem?
-Não, está doendo muito.
-O que houve?- insistiu o garoto
-Um homem. Bonito. Elegante. Andava sutilmente e ...- E subitamente, o brilho do seu olhar sumira como o anoitecer daquele inverno.
Todos os Petrov, e Mrs. Fletcher estavam aterrorizados. O ferimento, que há pouco, parecia não ser grave havia aumentado consideravelmente durante o minuto em que Patrick conversou com a vítima. E isso, ele não conseguia esquecer. Depois disso, sentiu-se culpado por perguntar primeiro e tentar socorrer depois. A polícia, as sirenes, os investigadores. Nada disso havia importância. Só a vida daquela pobre senhora poderia resgatar Patrick daquela amargura que sentia.
Demorou para Patrick conseguir pegar no sono. As imagens iam e vinham na sua cabeça e na última vez que olhara para o relógio, 3:27 AM. mais novamente o garoto foi acordado. Desta vez, batidas fortes na janela do seu quarto. Correu para ver o que era. Com cuidado, arratou as barulhentas janelas de madeira e viu no outro lado seu amigo Charlie, suado e aparentando cansaço.
- O que aconteceu irmão?
-Me deixa entrar, pelo amor de Deus.
-Vem, entra rápido.
E assim ele fez, sentando numa velha poltrona cujo assento estava rasgado.
-Agora pode me explicar?- insistiu Patrick
-Tava fazendo uns negócios, mas não deram muito certo. Aí resolvi passar aqui.
-Que tipo de negócios?
-Assuntos de família.
-A essa hora?
-Minha família dorme tarde.
Patrick percebeu que não adiantaria em nada continuar perguntando sobre a misteriosa chegada do amigo.
-Aconteceu uma coisa esta tarde. Preciso dividir com um amigo.
-Aquela mulher? retrucou Charlie
-ISSO, como soube? (Charlie morava há alguns quarteirões de Patrick. Não era possível que em menos de 12 horas, o amigo soubesse daquilo).
-É, eu.. estava pensando e...-Charlie ficou sem palavras por um instante - Não importa, quer acender um?
Tirou uma caixa de cigarettes vindos de Dublin. Patrick estava nervoso. E, quase automaticamente aceitou para tentar esquecer o dia horrível que tivera.
Pela janela, agora com apenas o vidro fechado Charlie viu uma bonita adolescente atravessar a rua sozinha e correr rumo a mansão da família Petrov.
-Quem é ela?
-Anastazia!- disse Patrick surpreso. -São mais de 5 da manhã e ela estava na rua até essa hora.
-Quem?
-Minha nova vizinha. Não sei muito sobre ela. Mas parecia tão indefesa quando a vi hoje de tarde. Tenho receio de saber o que ela fazia durante a noite.
E mais uma vez o sossego da Rua Beckford não era o mesmo para Patrick.