quinta-feira, 5 de junho de 2014

Toda a felicidade a que puder aspirar será imperfeita

Não por pessimismo, mas por realismo. Chega uma hora que a miopia do coração é superada pela visão menos turva da realidade. Percebe que é preciso substituir o emprego ideal e a mulher dos seus sonhos e a família perfeita e o sucesso pessoal por o emprego ideal ou a mulher dos seus sonhos ou a família perfeita ou o sucesso pessoal. Com sorte, a equação da sua felicidade vira uma permutação do tipo n escolhe n-1 desejos para se tornarem reais. Mas às vezes essa escolha é n-2, n-3 e assim por diante...

Aquilo que te contaram não é verdade, uma lástima. Nem tudo que você quer vai acontecer na sua vida e nem tudo que você quer que aconteça com os outros vai acontecer com os outros. Nosso mundo pessoal é um quebra-cabeça sem fim. Algumas peças são perdidas enquanto você tenta montá-lo, e ao mesmo tempo em que um lado fica arrumado, o outro se bagunça de algum jeito. A subjetividade de cada alma tem um objetivo em comum, chamado felicidade. E pra cada alma, ela tem um significado.

Além disso, nunca é demais lembrar que é em vão tentar colocar a felicidade dos outros à frente da sua, por mais altruísta e benevolente que tu sejas. Vai chegar a hora em que a tempestade derrubará o castelo de cartas ao seu redor e você, sim, você mesmo vai ter que bater no peito e assumir a responsabilidade de reconstruí-lo. Talvez nesse momento você entenda que precisa fazer mais do que apenas existir pra ser feliz.

Enfim, só peço o fim da auto-compaixão e do "coitadismo" pífio a que certas pessoas são submetidas pelos outros e por si mesmo. Ninguém é pior ou melhor do que ninguém. Se toda a felicidade que puder aspirar será imperfeita, ouse para que ela seja a mais divertida possível.

@Gui_Lorenz

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Vai

Não adianta fingir. Apesar de estarmos fadados à essa ação na sociedade, no fundo da tua alma tem alguma coisa que te diz: não adianta fingir pra ti mesmo. Tu sabe das tuas fraquezas, daquilo que te limita, impede, bloqueia ou envergonha.

Passava das 6 hrs da manhã e ele já se remexia na cama. Teu corpo já se acostumara com a fatídica rotina de acordar cedo. Virou-se e sentiu as costas tocarem a parede gelada. Bom dia, seu merda. Tomou banho com a intenção de despertar, mas a sensação continuava a mesma. Preguiça. Infinita.

Pega a toalha,
Seca o cabelo,
Coça a barba e pensa nela.

Enxuga o corpo,
Se vê no espelho,
Escolhe a roupa e pensa nela.

Come um pão,
Bebe café,
Pega suas coisas e pensa nela.

Corre,
Trabalha,
Estuda.

E continua pensando nela.

Ele lê um livro pra se distrair e acaba encontrando uma personagem completamente diferente dela. Diminui a graça. Mas sabe que precisa de conteúdo, assim prossegue a leitura. Coça a barba com mais frequência do que o normal. Estica o olhar com mais frequência do que o normal. Se vira na cadeira com mais frequência do que o normal.

Escreve no caderno,
Anota na agenda,
Olha pra cima e pensa nela.

Os devaneios vêm e vão numa velocidade impressionante. Em 30 segundos lembra de como a conheceu, de uma conversa, de seu olhar dizendo uma coisa enquanto a boca dizia outra. Se lembra da grande vitória e de seus planos para o futuro. Não adianta fingir, ela te fez sentir algo diferente. E ele negou isso insistentemente nos últimos meses. Agora tudo pode ter mudado. Teu não instinto pode ter te traído. Aquela conversa pode ter sido a última e os rumos se dividiriam numa bifurcação inesperada. Será que ainda há volta?

Ele se aproxima, com confiança e está prestes a saber se os próximos meses serão melhores. Seja um herói, pelo menos uma vez. É agora.

Desencosta da parede, o despertador toca. Vai fazer algo pra ser feliz hoje? Ou vai arranjar outra desculpa? Bom dia, seu merda.

@Gui_Lorenz

sexta-feira, 28 de março de 2014

São Muitos Enredos

Infinitamente distorcida segue a nossa visão de felicidade. Tão abstrato é o conceito como os sonhos que nos fazem acreditar numa sutil dose de perfeição nas nossas vidas. Digo dose pois não quero pedir demais, somente algumas vitórias que me façam seguir caminhando e lutando contra aquilo que tenta me derrubar.

Haverá um dia em que tu não vai simplesmente abaixar a cabeça, sair andando e esquecer. Um dia que a mudança chegará desapercebida e vai transformar teu marasmo sentimental em uma enorme onda de atitude. E tudo e todos que tentaram te derrubar serão levados pela verdadeira maré viva (SILVEIRA, 2013).

Pode parecer bem simples julgar aquilo que o outro faz, pensa e sente. Mas é muita prepotência crer que sabe a resposta pra vida, pro universo e tudo mais. Cada um é cada um. Temos nossas fraquezas maiores e menores. Nenhuma pode ser ignorada ou aceitada. Vai, luta! Nessa vida, são muitos enredos. Enrolados, embriagados como nós. Viva o seu intensamente, antes que seja tarde demais.

@Gui_Lorenz

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O Ponto Fora Da Curva

A vida está muito distante de ser uma reta, com caminhos planejados e traçados nos mínimos detalhes, algo linear que te ofereça segurança suficiente pra afirmar como será o amanhã. Nessa longa estrada, as coisas mudam num piscar de olhos. O que era, pode não ser mais. O que se foi, pode não voltar atrás. Ontem é história. Amanhã é mistério.

E as traiçoeiras curvas são constantes por aqui, umas abertas como uma nova chance e tantas outras fechadas como os momentos difíceis. Reduza a marcha da vida, mesmo que por um instante, para agradecer por aquilo que te faz melhor.

Contudo, preste atenção em todas as curvas, pois haverá um dia em que um ponto fora dela vai te fazer parar. Vai te desconcentrar e muitas vezes não terá como olhar pelo retrovisor para avaliar tudo o que se foi. Esse ponto pode (e provavelmente vá) atrair outras pessoas, mas nunca desista de fazer o seu melhor para alcançá-lo. Se o ponto for o mais estranho e espetacular já conhecido, saiba que a vida te deu uma chance. Agora lute por essa exceção. Vírgulas são necessárias, até quem sabe o ponto ser tudo aquilo que lhe faltava.

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

O Bem Maior

Foi-se o tempo em que este autor escrevia quase que semanalmente nesse (não mais) periódico site. Este ano foi de grandes mudanças, amadurecimento forçado por algumas situações e espontâneo por inúmeras outras. Nunca havia pensado em como sair da zona de conforto seria tão problemático e paradoxal, mas muitas vezes foi algo bom. Ir para novos lugares, conhecer novas pessoas, enfim pensar fora da caixinha.

Nunca 365 dias foram tão puxados, tão ríspidos e ao mesmo tempo agradáveis. Nunca havia passado mais tempo fora de casa do que dentro dela. Nunca havia visitado tanto as estações da CPTM. Nunca havia trocado tanto de lugar, estudado tantas matérias ou sido submetido às mais improváveis situações. Muito menos havia substituído o sabor do Frapuccino da Starbucks. Mas tudo isso aconteceu. Eu nunca havia entendido o valor das coisas boas. Essa última, talvez não entenda até hoje e provavelmente nunca entenderei. Mas quem disse que precisamos entender tudo para sermos o que somos?

Hoje pensei em como a vida passa rápido, como as coisas mudam enquanto que outras permanecem inalteráveis. 2013: um ano que me mostrou o bem maior. O que? O bem maior não é a soma de todas as coisas boas, é mais uma mágica que eu acredito. E sei que outros também acreditam nele. É um pouco de pensamento, um pouco de reflexão e muito de ação. É um momento, que quando nada parecer fazer sentido, algo aparece. E seja lá o que (ou quem) represente isso, não deixe escapar. Às vezes, o bem maior só pode acontecer quando dizemos sim. Sim pra aquilo que te faz bem sem requerer nenhum tipo de explicação.

Entre um ano e outro é bom achar um vácuo pra ver o que deu certo e o que posso melhorar. Coloque-se mais na pele do outro. Veja o que você pode fazer pra tornar as coisas menos difíceis. Eu tive sorte esse ano e posso dizer que estou bem. Mas não penso em desistir tão cedo de alcançar meu bem maior.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Das Histórias Que Não Foram Vividas

   Estava anoitecendo. Os últimos raios de sol despediam-se no horizonte e, aos poucos, davam lugar à escuridão parcial que era apenas interrompida por alguns pontos brilhantes no céu. Com passos curtos e arrastados, um senhor deslocava-se para perto da janela de seu apartamento. Respirou fundo, olhou para frente e não conseguiu seguras as lágrimas.

   Não havia uma noite em que não parava para pensar em como sua vida poderia ter sido diferente. Era filho único, teve pouco contato com os primos e tios. Não casou-se nenhuma vez. Mas apaixonou-se algumas. Sempre acreditando que seria diferente, que encontraria um amor para viver pelo resto de sua vida, como nos filmes. Como nos livros. Como nos comerciais de Natal. Contudo, não foi assim para ele.

   Cada desilusão era uma pontada no peito daquele homem que sofreu por sentir demais. Agora, estava velho e sentia-se incapaz de ser feliz. Lamentava as chances que perdeu. Na verdade, nem ele sabia se tivera tido uma oportunidade concreta de mudar o seu destino para melhor. Era tímido e introvertido; confortava-se em apenas existir. Nunca ousou, pois tinha medo de perder aquilo que na verdade nunca fora seu.

   Os finos cabelos brancos, as dobras na pele, a dificuldade em andar. Tudo demonstrava que ele se resumia a um pobre resto de esperança. Deu um gole em seu uísque e pensou como queria voltar no tempo. Não teve esposa. Nem filhos. Muito menos alegria. Os poucos amigos feitos já haviam desaparecido há tempos. Hoje, ele morre lentamente e possui apenas uma amarga lembrança: das histórias que não foram vividas.

@Gui_Lorenz

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Zero

Ninguém tem tudo o que deseja. Nós, meros seres humanos frente à imensidão do universo, possuímos essa peculiar e desastrosa característica: desejar mais do que podemos alcançar. E essa é a causa de tanto sofrimento, tanta revolta, desilusão e decepção. Somos o que podemos ser, não o que queremos ser.

Nossa preocupação em parecer algo maior faz com que a essência do ser humano (a ação, não a espécie) fique abandonada em algum canto do coração. Todos temos algo a esconder, um ponto fraco que nos faz desmoronar. E pensando em nossos vícios e virtudes, admiti a hipótese do saldo.

Vivemos em um estado de estabilidade, no qual coisas boas e coisas ruins acontecem todos os dias. Por vez ou outra, acontecem mais coisas boas do que ruins ou vice-versa. Mas isso é passageiro. Existe um ponto de equilíbrio entre tudo isso, enfim, como a lei da ação-reação, aquilo que um dia acontece de pior, no outro acontece de melhor. Uma força além da minha compreensão que não te deixa ser puxado para um extremo ou outro. Sendo assim, o zero é uma resposta para nós. Pelo menos uma hipótese. Bem forte, ao meu ver. Tudo de positivo terá um contrapeso negativo.

As emoções, razões, resultados se balanceiam de modo que, ao final, encontrem-se no saldo zero. Devemos aceitar essa condição, esse meio termo que nos deixa tão inseguros? Não sei. Mas há boas razões para acreditar que tal condição existe. Entre o otimismo e o pessimismo, fico com o realismo de que as coisas vêm e vão numa dinâmica que altera o rumo das nossas vidas diariamente. A vida tem de prosseguir e talvez seja melhor mantermos a crença de que, ao final de tudo, teremos bons motivos para sorrir. Alguns a mais do que para lamentar.

@Gui_Lorenz